A CABALA
MÍSTICA
A IOGA
DO OCIDENTE
1. São
poucos os estudantes de ocultismo que sabem alguma coisa a respeito da fonte de
onde surgiu a sua tradição. Muitos deles sequer sabem que existe uma Tradição
Ocidental. Os eruditos sentem-se perplexos diante dos subterfúgios a das
defesas intencionais de que se valeram tanto os iniciados antigos como os
modernos para ocultar-se, a concluem que os poucos fragmentos que ainda nos
restam dessa literatura não passam de contrafações medievais. Muito se
espantariam eles se soubessem que esses mesmos fragmentos, suplementados por
manuscritos que jamais se permitiu saírem das mãos dos iniciados, a
complementados por uma tradição oral, ainda são transmitidos até hoje nas
escolas de iniciação, constituindo a base do trabalho prático da ioga do
Ocidente.
2. Os
adeptos das raças cujo destino evolutivo consiste em conquistar o plano físico
desenvolveram uma técnica ióguica própria que se adapta aos seus problemas
especiais a às suas necessidades peculiares. Essa técnica baseia-se na bem
conhecida, mas pouco compreendida Cabala, a Sabedoria de Israel.
3.
Poder-se-á perguntar por que as nações ocidentais teriam qualquer razão para
procurar a sua tradição mística na cultura hebraica. A resposta a essa questão
será facilmente compreendida por aqueles que estão familiarizados com a teoria
esotérica relativa às raças a sub-raças. Tudo tem uma fonte. As culturas não
brotam do nada. As sementes de cada nova fase de cultura devem surgir
necessariamente da cultura anterior. Não podemos negar que o judaísmo foi a
matriz da cultura espiritual européia, quando recordamos que tanto Jesus como
São Paulo eram judeus. Nenhuma outra raça além da judia poderia ter fornecido a
base para uma nova revelação, visto que nenhuma outra raça abraçava um credo
monoteísta. 0 panteísmo e o, politeísmo tiveram seus dias de esplendor, mas uma
nova cultura, mais
espiritual,
se tomou necessária. As raças cristãs devem sua religião à cultura judia, assim
como as raças budistas do Oriente devem a sua à cultura hindu.
4. 0
misticismo de Israel fornece os fundamentos do moderno ocultismo ocidental, a
constitui o fundo teórico com base no qual se desenvolveram os rituais
ocultistas do Ocidente. Seu famoso hieróglifo, a Árvore da Vida, é o melhor
símbolo de meditação que possuímos, exatamente porque é o mais compreensível.
S. Não é
minha intenção escrever um estudo histórico sobre as fontes da Cabala, mas,
antes, mostrar o emprego que dela fazem os modernos estudantes dos Mistérios.
Embora as raízes de nosso sistema estejam na tradição; não há razão alguma para
que esta nos escravize. Uma técnica empregada nos dias que correm é um processo
que está em pleno desenvolvimento, pois a experiência de cada trabalhador a
enriquece a se torna parte integrante da herança comum.
6. Não
devemos necessariamente seguir tais a tais atitudes ou manter tais a tais
idéias apenas porque os rabinos que viveram antes de Cristo assim o
determinaram. 0 mundo não deteve sua marcha na era dos rabinos, e vivemos hoje
uma nova revelação. Mas o que era verdadeiro - em princípio no passado é
verdadeiro - em princípio - na atualidade e, por conseguinte, de muito valor
para nós. 0 cabalista moderno é o herdeiro da Cabala antiga, mas cabe-lhe
reinterpretar a doutrina a reformular o método à luz da revelação atual, caso
queira extrair dessa herança algum valor prático para si.
7. Não
pretendo que os modernos ensinamentos cabalísticos, tal como os que aprendi,
sejam idênticos aos dos rabinos pré-cristãos, mas afirmo que esses ensinamentos
são os legítimos descendentes daqueles, constituindo o desenvolvimento natural
que deles proveio.
8. Quanto mais
próxima estiver a nascente, mais pura será a água do rio. Para descobrir os
princípios primeiros, devemos it à fonte-mãe. Mas um rio recebe muitos
afluentes em seu curso, a estes não estão necessariamente poluídos. Se
desejamos descobrir se a água desses afluentes é pura ou não, basta-nos
compará-la com a corrente original; se ela passa por esse teste, da impede que
se misture com as águas principais a aumente sua força. Ocorre o mesmo com uma
tradição: o que não é antagônico deve ser assimilado: Devemos sempre testar a
pureza de uma tradição no que respeita aos
princípios
primeiros, mas devemos igualmente julgar a vitalidade de uma tradição por sua
capacidade de assimilação. Apenas a fé morta não recebe' fluências do
pensamento contemporâneo.
9. A corrente
original do misticismo hebraico recebeu muitas adições. A sua culminação
ocorreu entre os nômades adoradores de estrelas da Caldéia, onde Abraão, em sua
tenda, rodeado pelos rebanhos, ouvia a voz de Deus. Mas Abraão defrontava-se
também com um sombrio pano de fundo, em que vastas formas se moviam
semidistintas. A misteriosa figura de um grande rei-sacerdote, "nascido
sem pai, sem mãe, sem descendência, que não tinha nem princípio nem fim",
concedeu-lhe a primeira ceia eucarística de pão a vinho após a batalha com os
reis do vale, os sinistros reis de Edom, "que governaram antes que
houvesse um rei em Israel, cujos reinos eram forças desorganizadas".
10. De
geração em geração, podemos traçar o relacionamento dos príncipes de Israel com
os reis-sacerdotes do Egito. Abraão a Jacó por lá passaram; José a Moisés
estiveram intimamente associados à corte dos adeptos reais. Quando lemos que
Salomão se dirigiu a Hirão, rei de Tiro, solicitando-lhe homens a materiais
para a construção do Templo, aprendemos que os famosos Mistérios de Tiro devem
ter influenciado profundamente o esoterismo hebraico. Quando lemos que Daniel
foi educado nos palácios da Babilônia, aprendemos que a sabedoria dos Magi deve
ter sido acessível aos iluminati hebreus.
11. A
antiga tradição mística dos hebreus possuía três escrituras: os Livros da Lei e
dos Profetas, que conhecemos como Velho Testamento; o Talmud, ou coleção de
comentários eruditos sobre aquele; e a Cabala, ou interpretação mística do
mesmo livro. Desses três livros, dizem os antigos rabinos que o primeiro é o
corpo da tradição; o segundo, a sua alma racional; e o terceiro, o seu espírito
imortal. Os homens ignorantes lêem com proveito o primeiro; os homens eruditos
estudam o segundo; mas o sábio medita sobre o terceiro. É realmente muito
estranho que a exegese cristã jamais tenha buscado as chaves do Velho
Testamento na Cabala.
12. No
tempo de Nosso Senhor, havia três escolas de pensamento religioso na Palestina:
a dos fariseus a dos saduceus, sobre os quais temos muitas informações nos
Evangelhos, e a dos essênios, a quem nunca se faz referência. A tradição
esotérica afirma que o menino Jesus ben Joseph, na idade de doze anos, foi
encaminhado, pelos eruditos doutores da Lei, que 0 ouviram a Lhe reconheceram o
valor, à comunidade essênia localizada nas proximidades do Mar Morto, para ali
ser treinado na tradição mística de Israel, a que Ele permaneceu nessa
comunidade até dirigir-se a João, a fim de receber o batismo no rio Jordão
antes do início de Sua missão, empreendida aos trinta anos. Seja como for, o
fato é que a frase final do "Pai nosso" é puro cabalismo. Malkuth, o
Reino, Hod, a Glória, Netzach, o Poder, constituem o triângulo básico da Árvore
da Vida, tendo Yesod, o Fundamento ou Receptáculo de Influências, como ponto
central. Quem formulou essa oração conhecia muito bem a Cabala.
13. 0
esoterismo cristão baseia-se na Gnose, que, por sua vez, radica tanto no
pensamento grego como no egípcio. 0 sistema pitagórico constitui uma adaptação
dos princípios cabalísticos ao misticismo grego.
14. A seção
exotérica da Igreja Cristã,organizada pelo Estado, perseguiu a aniquilou a
seção esotérica, destruindo-lhe toda a literatura a lutand0 por apagar da
história humana a própria lembrança de uma doutrina gnóstica. Registra a
história que as termas a as padarias de Alexandria foram fomentadas durante
seis meses com os manuscritos retirados da grande biblioteca. Pouco nos restou
da herança espiritual da sabedoria antiga. Tudo o que estava acima do solo foi
arrancado, e é apenas com a escavação dos antigos monumentos encobertos pela
areia que estamos começando a redescobrir-lhe os fragmentos.
15. Só
depois do século XV, quando o poder da Igreja começou mostrar sinais de
fraqueza, ousaram os homens confiar ao papel a tradicional Sabedoria de Israel.
Os eruditos declaram que a Cabala é uma fantasia medieval, pois não lhe podem
traçar a sucessão desde os manuscritos primitivos. Mas aqueles que conhecem o
sistema de trabalho das fraternidades esotéricas sabem que toda uma cosmogonia
a toda uma psicologia podem !0, r ocultadas num hieróglifo que, para o
não-iniciado, não tem qualquer sentido. Esses estranhos a antigos diagramas
foram passados de geração para geração, e a explicação que os acompanha,
transmitida apenas verbalmente, de modo que a verdadeira interpretação jamais
se perdeu. Quando existia alguma dúvida quanto à explicação de algum ponto abstruso,
recorria-se ao hieróglifo sagrado, e a meditação sobre ele comunicava o que
gerações de trabalho meditativo haviam nele infundido. Sabem muito bem os
místicos que, se alguém medita sobre um símbolo ao qual a meditação do passado
associou certas idéias, tal pessoa terá acesso a essas mesmas idéias, ainda que
o hieróglifo jamais lhe tenha sido explicado por aqueles que receberam a
tradição oral "da boca ao ouvido".
16. A força
temporal organizada da Igreja expulsou seus rivais de~e campo a destruiu-lhes
os vestígios. Pouco sabemos das sementes que brotaram a logo foram cortadas
durante a Idade Negra, mas o misticismo é inerente à raça humana e, embora a
Igreja tenha destruído todas as raízes da tradição em sua alma grupal, os
espíritos devotos de seu próprio rebanho redescobriram a técnica da união entre
a alma a Deus a desenvolveram uma ioga característica, estreitamente semelhante
à ioga Bhakti do Oriente. A literatura do catolicismo é rica em tratados sobre
teologia mística que relam uma familiaridade prática com os estados superiores
de consciência, embora apresentem uma concepção um tanto quanto ingênua da
psicologia desse fenômeno, revelando assim a pobreza de um sistema que não
dispõe da experiência fornecida pela tradição.
17. A ioga
Bhakti da Igreja Católica só é adequada àqueles cujo temperamento é
naturalmente devocional a que descobrem no auto-sacrifício amoroso a sua
expressão mais espontânea. Mas nem todos têm esse temperamento, e é uma pena
que o Cristianismo não tenha outros sistemas a oferecer aos seus devotos. 0
Oriente, por ser tolerante, é sábio, a desenvolveu vários métodos ióguicos.
Cada um desses métodos pode ser seguido com exclusão dos outros, sem que para
isso tenha de negar aos outros métodos o valor como meio de acesso a Deus.
I8. Em
conseqüência dessa deplorável limitação de nossa teologia, muitos devotos
ocidentais recorrem a métodos orientais. Para aqueles que são capazes de viver
em condições orientais a trabalhar sob a imediata supervisão de um guru, essa
escolha poderá revelar-se satisfatória, mas ela raramente dá bons resultados
quando esses mesmos devotos seguem vários sistemas sem outra supervisão além da
de um livro a sob as condições que regem a vida no Ocidente.
19. É por
essa razão que recomendo às raças brancas o sistema tradicional do Ocidente,
pois este se adapta perfeitamente à sua constituição física. Esse sistema
produz resultados imediatos e, quando praticado sob a supervisão adequada, não
afeta o equilíbrio mental ou físico - como acontece com desagradável freqüência
quando se utilizam sistemas impróprios - e ainda estimula uma excepcional
vitalidade. É essa vitalidade peculiar dos adeptos que deu origem à tradição do
"elixir da vida". Conheci várias pessoas em minha vida que mereciam o
título de adepto, a sempre me surpreendi com a extraordinária vitalidade que
exibiam.
20. Por
outro lado, só posso endossar o que todos os gurus da tradição oriental sempre
afirmaram, ou seja, que qualquer sistema de desenvolvimento psico-espiritual só
pode ser seguido adequadamente a em segurança sob a supervisão pessoal de um
mestre experiente. Por essa razão, embora me proponha a fornecer nestas páginas
os princípios da Cabala mística, não creio que seja prudente dar também as
chaves de sua prática, mesmo que, pelos termos de minha própria iniciação, eu
não estivesse proibida de faze-lo. Mas por outro lado, não considero justo para
com o leitor comunicar-lhe informações erradas ou deformadas. Assim, na medida
de meus conhecimentos a de minha crença, posso afirmar que as informações dadas
neste livro são exatas, ainda que, em certo aspecto, incompletas.
21. Os
Trinta a Dois Caminhos Místicos da Glória Oculta são sendas da vida, a aqueles
que desejam desvendar-lhes os segredos não têm outra saída senão trilhá-los.
Assim ~o eu própria fui treinada, todos os que desejam sujeitar-se à disciplina
devem fazê-lo, a eu indicarei com prazer o caminho que todo aspirante sério
deverá seguir.
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