O
espiritismo é um assunto longe de ser pacífico á luz da doutrina cristã. A
teologia cristã mais ortodoxa, tende a identificar a ocupação temporária do
corpo de uma pessoa fisicamente viva por parte de um espírito alheio a esse
corpo, enquanto um fenômeno de possessão. As visões mais ortodoxas da
teologia católica, tendem mesmo a entender o espiritismo enquanto uma forma de
necromancia, e por isso uma prática espiritual proibida.
Contudo, a
doutrina espírita tende a defender que, ao contrário, esse fenômeno é um
instrumento perfeitamente normal de comunicação com o mundo dos mortos, ou o
mundo dos espíritos.
O fenômeno
descrito e defendido pelas doutrinas espíritas, não é contudo original, mas
antes é imensamente antigo e remonta aos primórdios da história da
espiritualidade humana.
Na
antiguidade egípcia, os faraós eram tidos como alguém em cujo o corpo habitava
o espírito de um Deus.
Nos
primórdios da religião hebraica, os sacerdotes masculinos e femininos da Deusa
Aserá, (na altura tida como a consorte do Deus Javé), eram tidos como pessoas
passíveis de serem invadidos pelo espírito da Deusa.
Na Europa,
as bruxas e os bruxos, (sacerdotes de religiões pagãs), eram igualmente
considerados como pessoas detentoras da capacidade de receber no seu corpo o
divino espírito da Deusa e do Deus.
Nas religiões
de origem africana, é perfeitamente comum que no decorrer de certas cerimónias,
espíritos ancestrais e poderosos incorporem no corpo de uma sacerdote ou
sacerdotisa, ou ate mesmo no corpo de um dos fieis.
Na própria
Bíblia, é registado o facto do rei Saul ter sido atormentado por um espírito
mau que Deus lhe enviava, ( I Samuel 16,23), ao mesmo tempo que também é
descrito como espíritos de Deus podem entrar temporariamente numa pessoa,
falando através dela e assim levando-a a profetizar - 2 Crônicas 24, 19-20. È mesmo descrito a forma como um
espírito enviado por Deus podia fortemente apoderar de um corpo - Ezequiel 3,24.
Os
evangelhos, descrevem igualmente como após a morte e ressurreição de Jesus, um
espírito se apoderou dos apóstolos, permitindo que eles passassem a falar
línguas que desconheciam, algo que mais tarde, (e inexplicavelmente), a
teologia católica veio a conotar com fenômenos de possessão demoníaca.
Contudo, em
certos pensamentos e sistemas religiosos, (como o Hindu), ser possuído esta
imensamente longe de ser um fenômeno demoníaco, mas é antes considerado
enquanto um fenômeno divino. Como afirma a autora Rosemary Ellen Guiley:
''Ser
possuído, [ nessas religiões] , significa que um Deus encontrou alguém digno de
receber o seu espírito.''
È por isso
claro que o processo através do qual um espírito «entra» num corpo de uma
pessoa viva para contactar com este mundo físico, é um fenómeno espiritualmente
universal, que toca transversalmente imensas culturas pelo mundo, e que é visto
de formas diametralmente opostas conforme a raiz cultural e antropológica onde
ocorre.
Os exemplos
de possessão temporária de um corpo por parte de um espírito, ou mesmo relatos
de espíritos que coabitam e residem num corpo humano, são inúmeros e encontram-se documentados na
maioria dos textos sagrados.
A doutrina
espírita genericamente professa que esse fenômeno de possessão é na verdade
de um processo de «incorporação», ou seja, uma ocorrência perfeitamente natural
e através do qual um espírito pode temporariamente ocupar, (parcial ou
totalmente), o corpo de um «médium», a fim de comunicar com este mundo.
Normalmente,
o espiritismo professa que nem todos possuem evolução espiritual ou uma
sensibilidade suficientemente apurada para conseguir ser receptores dos
espíritos. Àquelas pessoas com essa capacidade e evolução espiritual, chamam-se
«médiuns» ou «videntes».
No
espiritismo, é igualmente professado que a comunicação com os espíritos pode
ocorrer de duas formas, ou seja, os espíritos, podem incorporar-se numa pessoa
de forma total ou parcial.
Se a
incorporação ocorre de forma total, a
pessoa «ocupada» pelo espírito perde a consciência durante a «possessão», sendo
que não terá memorias sobre o sucedido, nem terá qualquer controlo sob o seu
corpo enquanto decorre o processo espiritual.
Se a
incorporação ocorre parcialmente, a pessoa fica consciente e aperceber-se-á de
tudo aquilo que o espírito comunicar, e pode mesmo em certos casos intervir
minimamente no diálogo.
''Channeling'',
é o termo normalmente usa para definir o processo de invocação de espíritos,
assim como o consequente fenómeno incorporatório e de dialogo dos espíritos com
este mundo através de um médium.
O termo
«espiritismo» foi criado por Hipplyte Leon D. Rivail, mais conhecido pelo seu
mundialmente famoso pseudónimo, ou seja: Allan Kardec
O termo
«espiritismo», visa representar o conjunto de estudos, sistematizações e
crenças espirituais professadas por Allan Kardec, conforme expressadas na sua
vasta obra literária.
O
pensamento filosófico e religioso de Allan Kardec, ( que hoje em dia é um dos
pilares fundamentais de imensos movimentos religiosos de natureza espírita), é
imensamente complexo, contudo podemos afirmar que consiste em 9 pontos
fundamentais:
I - O ser
humano é constituído por um corpo material aliado a um espírito;
II - O corpo
físico é mortal, contudo o espírito é imortal;
III - O fenômeno
da vida, seja ela física ou espiritual, não é exclusivo do planeta terra, sendo
que ocorre por todo o universo e é parte da grande Criação de Deus;
IV - Jesus, era
um ser espiritual imensamente evoluído, que atingiu as metas da virtude e da
bondade, emanando luz e iluminação para o mundo. Jesus foi por isso, o
«Espírito mais perfeito que Deus ofereceu aos homens para servir-lhes de modelo
e guia;
V - O corpo
físico é um receptáculo do espírito, que através de um processo de
reencarnações, vem a este mundo a fim de realizar um aprendizagem espiritual;
VI - O objectivo
deste processo de reencarnações, é a evolução espiritual até que seja alcançada
a plenitude do ser espiritual. O ciclo de reencarnações e aperfeiçoamento visa
atingir a virtude e o bem, um estado celestial de luz e iluminação;
VII - A alma, é o
espírito enquanto ligado a um corpo físico;
VIII - O espírito
encontra-se ligado ao corpo físico na forma de um invólucro denominado
perispirito, sendo que esse é muitas vezes observado e chamado de fantasma;
IX - Os
espíritos desencarnados, (comumente conhecidos por «espíritos dos mortos), e
os espíritos encarnados, ( vulgarmente conhecidos pelos vivos), podem comunicar-se através do processo
denominado ''channeling'', ou em português: ''mediunidade''.
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