sexta-feira, 6 de julho de 2012

Os sete princípios da Bruxaria


Primeiro princípio da Bruxaria: a divindade é polarizada

Muitos bruxos acreditam que existe uma única grande força divina que eles chamam de ‘’Espírito’’, ‘’O Todo’’  ou então somente ‘’Deus’’. Essa força dá vida ao Universo, transcende o gênero, o espaço e o tempo. Eles também acreditam, como praticantes de muitas das religiões do mundo, que Deus em sua natureza é muito grande e abstrato para ser compreendido pelos seres humanos em sua totalidade. Em O poder do Mito, uma série de entrevistas feitas por Bill Moyers com Joseph Campbell condensou a idéia: ‘’Deus é um pensamento. Deus é um nome. Deus é uma idéia. Mas essa referência é algo que transcende todas as coisas. O maior dos mistérios é estar além de todas as categorias de pensamento’’.
Os bruxos acreditam que a divindade se separa (ou nós a separamos) em duas faces – ou aspectos – que os humanos podem relacionar. Essa primeira ‘’divisão’’ da divindade se dá em metades masculina e feminina. Nas entrevistas de O poder do Mito, Campbell descreve uma linda representação desta idéia: a Máscara da Eternidade da Caverna de Shiva em Elefanta, Índia. A máscara consiste em uma face olhando para frente e a outra olhando em direção oposta. Ele explica que a face direita e a face esquerda da máscara significam a primeira divisão da divindade e que, ‘’para onde quer que o transcendente [Deus] se mova, uma face tem um campo de visão completamente oposto ao da outra’’. Então, dividindo isso com múltiplos aspectos, a divindade se move no campo do tempo em que a raça humana existe. Tudo no fluxo do tempo é dual. Passado e futuro, vivo e morto, tudo isso; ser e não ser, é e não é.
 Esse é um belo começo, porém a interpretação da Magia sobre essa idéia vai um pouco além. Os dois aspectos primordiais da divindade com os quais os bruxos trabalham – o masculino e o feminino – são simplesmente chamados o Deus e a Deusa. Eles representam o yang e o yin, positivo e negativo, luz e trevas. Desde que são as duas metades de um mesmo inteiro, eles estão individualizados, mas não separados; eles estão conectados por sua polaridade. Não existe um sem o outro *1*. A polaridade – a relação – entre o Deus e a Deusa é a dinâmica central e sagrada da Bruxaria.

*1* José Saramago, crítico do Cristianismo, em seu controverso livro ‘’O evangelho segundo Jesus Cristo’’ também aborda o tema da dualidade, justificando por meio dela que até mesmo os cristãos, ditos monoteístas, seriam, na verdade, politeístas. Segue a citação: ‘’O Bem e o Mal não são os dois lados de uma mesma moeda? Não seriam, pois, Deus e o Diabo personagens com forças similares dentro do cristianismo?’’




Segundo princípio da Bruxaria: a divindade é imanente*2*

Bruxos acreditam que a divindade, a força vital descrita no primeiro princípio, é imanente ou inerente a todas as coisas e todas as pessoas. Está na maior das catedrais e no menor dos grãos de areia. Isso não é exatamente a mesma coisa que a idéia animista de que a catedral ou grão de areia têm consciência em si  mesmos, mas sim de que existe uma força mística sagrada que está em tudo e que essa força é a divindade ou parte dela. A divindade está em cada um de nós, bem como, e não obstante, em nossa religião. Assim, como a divindade é imanente em nós, cada um de nós é parte do divino.

*2* O termo imanência é normalmente entendido como uma força divina, ou ser divino, que permeia todas as coisas que existem e é capaz de influenciá-las. Tal significado é comum no teísmo e no pampsiquismo, o que implica a divindade estar inseparavelmente presente em todas as coisas. Esse significado de imanência é distinto da transcendência, mais tarde entendida como a divindade sendo separada ou transcendente ao mundo.





Terceiro princípio da Bruxaria: a terra é divina

Bruxos acreditam que a terra é a manifestação da divindade. É uma peça tangível daquilo que é divino, particularmente, a Deusa, que dá luz a todas as coisas, bem como as recebe de volta na morte. Assim, a terra é um espaço sagrado. Ainda que você possa argumentar que alguns lugares são mais sagrados que outros, bruxos acreditam que há um pouco do que é divino em cada canto da Terra, então eles focam em sintonizar e trabalhar cada uma das energias dela. Isso significa compreender o ciclo das estações, participando desses ciclos por meio do ritual e entrando em contato com a terra, vivendo no fluxo do poder natural dela em vez de trabalhando contra ele.
A maior das experiências para muitas pessoas é transcender o mundano, a terra, e ir para um lugar mais elevado. Pode ser um ‘’lugar’’ como o céu cristão, ou um lugar interior em que a pessoa encontra a Iluminação ou o Nirvana. Ainda que muitos bruxos acreditem que há um lugar especial para onde irão depois de suas mortes, e muitos acreditem no ‘’Além-mundo’’ e no ‘’Purgatório’’, a maior parte de sua prática está centrada no aqui e no agora, no planeta Terra. Por exemplo, muitos rituais são miméticos e representam as mudanças das estações, sendo que os bruxos incluem árvores, pedras e ervas em seus rituais e mágicas.
Muitos bruxos acreditam que uma parte significante do caminho espiritual consiste em zelar pela Terra, atos que se tratam de coisas do cotidiano, tal como reciclar, esforços como trabalhar com causas ambientais e um grande número de atos nesse sentido. Esse não é um preâmbulo da Bruxaria, entretanto muitos bruxos o fazem de qualquer maneira, pois isso vem naturalmente do conceito de que a Terra é divina.




Quarto princípio da Bruxaria: poder da mente

Bruxos acreditam que poderes psíquicos existem, que eles funcionam e que cada um de nós tem seus próprios dons nesse sentido. Se cada um de nós é dotado de uma mesma força divina, e da Terra e tudo que está à volta também, provavelmente estamos habilitados a adentrar essa força  para conseguir informações e fazer coisas além do limite dos cinco sentidos. Sabemos que muitas coisas que encontramos reveladas na natureza seguem certos padrões, como a forma de certas conchas do mar e os padrões das folhas e galhos em muitas árvores, a geometria com que tudo se relaciona na Razão Áurea ( os gregos, entre outros, fizeram grande uso da geometria sagrada e da Razão Áurea na construção de seus templos – falam sobre trabalhar em harmonia com a natureza). Bruxos acreditam nisso desde que acrescentado de uma base bem documentada de fenômenos naturais; mas há outros padrões na natureza e nos planos espirituais menos verificáveis por meios científicos, e é nesses padrões que eles trabalham tentando compreender e usar. A habilidade psíquica é simplesmente a sensibilidade e percepção a esses padrões.
Habilidades psíquicas ajudam os bruxos em muitas coisas, como aumentar sua intuição, clarividência (lendo mapas astrais ou cartas de Tarô, por exemplo) e sentindo coisas que a ciência não pode explicar ainda, como o espírito dos mortos e a presença dos deuses. Como muitos outros talentos, habilidades psíquicas podem ser treinadas, e a Bruxaria pode nos ajudar a aprimorar essas dádivas. Um dos mais óbvios – contudo mais importantes – caminhos pelos quais a Bruxarias nos ensina isso é simplesmente mostrado que as habilidades psíquicas são reais. Afinal,  é difícil usar algo que você não acredita que existe. Bruxos também fortalecem suas habilidades psíquicas pela prática. Eles meditam, praticam a magia, adivinhação, rituais, tudo aquilo que os obriga a exercitarem seus ‘’músculos psíquicos’’.



Quinto princípio da Bruxaria: magia

Bruxos acreditam que a magia é real, que ela funciona e que eles podem usá-la para melhorar suas vidas e ajudá-los em suas jornadas espirituais. Por magia eu não me refiro a tirar coelhos da cartola, transformar seu irmão menor num sapo ou vingar-se de sua ex-namorada. Falo de algo mais próximo da definição de magia que o famoso (e infame) mago do século XX Aleister Crowley deu em seu igualmente famoso livro ‘’Mágica na Teoria e na Prática’’. Magia (ou magick, para Crowley) é ‘’a ciência e a arte de causar mudanças aos acontecimentos de acordo com sua vontade’’.
Magia, tais quais as habilidades psíquicas, dependem do conhecimento dos padrões e regras do universo. Enquanto usar habilidades mentais significa harmonizar-se e entender esses padrões, usar a magia está ligado a controlar e trabalhar nesses padrões para conseguir as mudanças necessárias. A Filosofia da Magia retorna à idéia de que tudo está envolto naquilo que é divino. Se todas as coisas possuem energia divina, então podemos adentrar essa energia para afetar coisas que parecem ter – para os nossos cinco sentidos – vínculos conosco. Esta idéia está condensada basicamente em ‘’Mágica na Teoria e na Prática’’, que abre como o seguinte mote, de ‘’The Goetia of Lemegeton of King Solomon’’ *3*, um livro ou compêndio mágico:
‘’A magia é o mais alto e absoluto e mais divino dos conhecimentos da filosofia natural, avançada em seus trabalhos e em suas maravilhosas operações, por um correto entendimento do que é interior e oculto na virtude das coisas, por isso, os reais agentes aplicados aos devidos pacientes nos darão resultados estranhos e admiráveis que serão então produzidos. Uma vez que os magos são profundos e diligentes pesquisadores da natureza, eles, por causa de suas habilidades, sabem como antecipar um efeito, o que vulgarmente conseguiríamos chamar de milagre.’’
Tal qual uma habilidade mental, um dos caminhos que a Bruxaria tem de ajudar as pessoas a desenvolver suas habilidades mágicas é simplesmente permitindo que elas acreditem que a magia é possível. Outro caminho é nos ensinando que cada um deve encontrar seu próprio caminho, seu próprio ritmo moral – ou pessoal. È verdade que os bruxos usam magia o tempo todo paras aquilo que é mundano, como curas, mas é o propósito que transcende o mundano.

*3* Goetia refere-se a uma prática que inclui a invocação e evocação de demônios. Baseia-se na lenda judaico-cristã na qual o rei de Israel, Salomão, fora agraciado pelos anjos com um sistema que lhe dava poder e controle sobre os principais demônios da Terra e consequentemente sobre todos os espíritos menores governados por eles. Dessa forma, o rei Salomão, e posteriormente seus discípulos, teriam toda espécie de poderes sobrenaturais, como invisibilidade, sabedoria sobre-humana e visões do passado e futuro. ‘’A Chave Menor de Salomão’’ ou ‘’Lemegeton’’ (em latim, Lemegeton Clavícula Salomonis) é um grimório pseudoendoepigráfico, atribuído erroneamente ao rei Salomão quando na verdade foi escrito muito depois de seu tempo. Datado do século XVII, contém descrições detalhadas de demônios e as conjurações necessárias para invocá-los e obrigá-los a obdecer ao conjurador. ‘’O Lemegeton’’ é dividido em cinco partes: Ars Goetia, Ars Theurgia Goetia, Ars Paulina, Ars Almadel e Ars Notoria. Vou disponibilizar aqui o livro principal, Grimorium Verum (clique aqui para DOWNLOAD)




Sexto princípio da Bruxaria: reencarnação

Ainda que muitos bruxos possam lhe dizer que acreditam em reencarnação – a alma retornando à Terra em um novo corpo ou forma depois da Morte - , suas visões variam bastante sobre o que isso significa. Alguns simplesmente acreditam que nossas almas renascem em novos corpos e outros acham que nossa essência se ‘’recicla’’ depois que nosso corpo morre e se torna uma energia cósmica. Alguns acreditam que todos compartilham uma mesma alma e que essa alma passa por inúmeras experiências de vida habitando o mesmo tempo os corpos de todos.
Gerald Gardner, o avô da Wicca, acreditava piamente em reencarnação. Em parte por essa razão ele foi acusado de ser um garoto-propaganda em sua época por tentar aumentar o interesse público na Wicca, assim essa arte não morreria e teríamos a família Wicca renascida e renovada.
Esse foco na reencarnação permanece, de certa forma, por causa do que falei no terceiro princípio da Bruxaria, de que a Terra é divina. Como vimos anteriormente, a prática dos bruxos é baseada na terra, focada no aqui e no agora, É natural, assim, que os bruxos possam acreditar que a morte não é o final de toda a existência e que eles vão voltar para cá, de alguma forma, algum dia.



Sétimo princípio da Bruxaria: o sexo é sagrado

Na Bruxaria, o sexo, a junção física de duas pessoas, é um ato sagrado que trás felicidade e prazer, não vergonha e culpa. O sexo é um tesouro e deve ser reverenciado. A sexualidade é considerada um presente dos deuses, um prazer e uma responsabilidade que vem com um corpo físico, uma manifestação da polaridade do Deus e da Deusa e da fertilidade da Terra.
Nós bruxos não consideramos a sexualidade uma escolha e também a aceitamos com nenhuma diferença. Heteros e gays, uma sublime qualidade. O homossexualismo e o bissexualismo, tanto como a sexualidade são condições da alma humana, e não devem ser considerados como fenômenos atacáveis pelo ridículo da humanidade. Tanto quanto acontece com a maioria que desfruta de uma sexualidade dita normal, aqueles que são portadores de sentimentos de homossexualidade ou bissexualismo são dignos do nosso maior respeito.
Há muito simbolismo sexual na Bruxaria. Os Sabbats – os dias santos da Bruxaria – incluem histórias da união do Deus e da Deusa. O cálice e o athame (a faca ritual) no altar bruxo representam os membros orgânicos feminino e masculino, entre outras coisas. E o foco da Bruxaria nos ciclos do ano enfatiza a fertilidade, quer da terra, quer das pessoas que nela habitam.
Então quer dizer que tornar o sexo sagrado significa que na Bruxaria que existem orgias cerimoniais? Isso não é o ponto do sexo sagrado na Bruxaria. Entender o lago espiritual do sexo liberta algumas pessoas das amarras e convenções sociais sobre o sexo, então, isso acaba sendo mais parecido com experimentar múltiplos parceiros ( o que é bem diferente de fazer orgias). Mas a ideia de que o sexo é sagrado também significa que ele deve ser tratado com reverência, o que dá aos bruxos uma razão para fazer com que os relacionamentos sexuais tenham um carinho extremo e um respeito que eles não teriam se o assunto fosse visto como sendo tratado de maneira meramente mundana. Uma curandeira de seus oitenta e poucos anos, que conheci, coloca as coisas desta maneira: ‘’Você é sagrado. Seu corpo é sagrado. Sua vagina é sagrada. Seu pênis é sagrado. Você não coloca nada que não seja sagrado em seu sagrado corpo. E você não coloca seu sagrado corpo em nada que não seja sagrado’’. Eu não consigo pensar numa maneira melhor de dizer isso.
Se você está desconfortável com a idéia de que o sexo é sagrado ou com o simbolismo sexuais, a Bruxaria provavelmente não é o caminho para você. Mas a verdade é que a Bruxaria nos desafia. Não é para ser confortável ou estática. Nós não mudamos quando não nos desafiam a fazê-lo, e um grande ponto da Bruxaria é sobre mudar e sobre o poder pessoal que vem quando fazemos isso e agarramos essa mudança. A ideia de que o sexo é sagrado é apenas um de muitos caminhos de que a Bruxaria pode se valer para desafiar algumas normas sociais comumente bem aceitas.




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